Portugal, ao que parece, e apesar da situação económica quase de miséria, deve ser dos países europeus, com o melhor parque de motos. Quando digo melhor digo igualmente mais moderno, maior cilindrada.
Nem sempre foi assim.
Quando me iniciei nestas coisas, fim dos anos 70, o parque de veículos de duas rodas com motor era fortemente representado pelas pequenas cilindradas e basicamente as 50 c.c. de fabrico nacional.
A indústria nacional dos fabricantes de duas rodas representava a maior quota de mercado e apesar de não apresentar produtos tecnologicamente inovadores, era uma indústria pujante.
As “motorizadas” eram um importante meio de transporte usado basicamente pelas classes menos abastadas e também pelos grupos etários mais jovens.
Existia um numero considerável de marcas tais como: a Casal, a SIS, EFS, Famel, Forvel, Macal e outras tantas que quase sempre usavam os mesmos motores, Casal, Zundapp ou Sachs. Os modelos, mesmo de diferentes marcas não apresentavam grandes diferenças entre si.
Existia um numero considerável de marcas tais como: a Casal, a SIS, EFS, Famel, Forvel, Macal e outras tantas que quase sempre usavam os mesmos motores, Casal, Zundapp ou Sachs. Os modelos, mesmo de diferentes marcas não apresentavam grandes diferenças entre si.
Alguns "privilegiados" possuíam máquinas que na altura eram vistas como superiores tais como as Kreidler, as Gilera, as Puch ou as imensas Vespas, basicamente as estrangeiras. As japonesas ainda não tinham inundado o parque de motos, no entanto, haviam algumas bem populares que , apesar disso não estavam ao alcance de todos. Lembro-me das Honda Cb 50, das SS50, Honda Amigo, da Yamaha RD 50 e pouco mais.
Existiam algumas motos de baixa cilindrada (125 cc e pouco mais) que no entanto já eram utilizadas pessoas mais abastadas ou por pessoas que gostavam da moto não apenas como um bem utilitário. Entre as mais vulgares podíamos encontrar as Vespas e algumas trails e utilitárias japonesas.
As grandes cilindradas, note-se que na altura uma 350 ou uma 500 já eram consideradas motos de grande cilindrada, não eram tão vulgares, muitas das que existiam tinham sido trazidas pelos retornados das ex-colónias.
Existiam, claro, grandes motos no nosso país, mas eram muito poucas de tal forma que quando víamos uma era motivo para parar e apreciar. Atualmente só fazemos isso se for uma moto extraordinariamente rara.
Existiam, claro, grandes motos no nosso país, mas eram muito poucas de tal forma que quando víamos uma era motivo para parar e apreciar. Atualmente só fazemos isso se for uma moto extraordinariamente rara.
O baixo numero de motos que por cá existiam, acredito que em parte seja o resultado de não existirem importadores e representantes que levassem o negócio com muito interesse e seriedade. Penso ainda, e note-se, estamos a falar duma época pós 25 de Abril de 1974, que era um negócio arriscado pois representava “bens supérfluos” tão ao gosto dos “fascistas” e dos “ricos”. Um tipo ser rico ou ser detentor de algum sinal de riqueza era socialmente discriminado como uma pessoa inimiga das classes operárias. Ainda mais, os sucessivos aumentos dos combustíveis levaram muita gente e estacionar os veículos mais gastadores e mesmo a trocá-los por outros mais económicos.
Uma importante parcela do somatória das motos de grande cilindrada era representado pela frota da Brigada de Trânsito que sempre habituou as populações a imagem das grandes motos. As mais conhecidas foram, sem dúvida, as “boxer” da BMW.
Na minha zona de residência existiam muito poucos stands e oficinas de motos, apenas existiam as tradicionais oficinas de motorizadas e bicicletas.
Recordo aqui na linha de Cascais o stand do “Simplicio” no Estoril, o “Joaquim da Galiza”, a oficina do “Zé das motos” na Parede, o Mário Guerra no Zambujal, o Stand Vidal, a IBA e a Motopeças em Lisboa e, não me lembro de mais ninguém, na realidade não havia muitos mais.
Recordo aqui na linha de Cascais o stand do “Simplicio” no Estoril, o “Joaquim da Galiza”, a oficina do “Zé das motos” na Parede, o Mário Guerra no Zambujal, o Stand Vidal, a IBA e a Motopeças em Lisboa e, não me lembro de mais ninguém, na realidade não havia muitos mais.
Visitar estes locais era algo que nos fazia sonhar. Sim naquele tempo sonhava-se com as motos. Sonhava-se com uma 125, depois com uma 350 e por aí adiante. Cada aumento de cilindrada era uma conquista.
Os equipamentos para o motociclista, também quase não existiam. Apenas os tradicionais blusões de couro, poucas marcas de capacetes, os típicos “penicos” de fabrico nacional e pouco mais. A indumentária do motociclista era normalmente improvisada com roupas quentes para o frio e os “oleados” das obras para a chuva.
Mas olhando para trás, o grande reaparecimento das motos em Portugal deu-se por meados dos anos 80.
O aparecimento de novos representantes para o nosso país bem como a entrada para a Comunidade Europeia foram com toda a certeza as causas deste tão forte implemento.
A facilidade em importar motos da Europa levou inúmeros comerciantes a dedicarem-se quase exclusivamente a este negócio. Nesta altura surgiram imensos stands de usados que tinha para venda motos importadas dos países europeus.
Éramos um país que tinha quase esquecido as motos e quase tudo o que vinha de fora era novidade, no entanto, havia alguns modelos muito procurados tais como: a Kawasaki GPZ 600, a Honda VF 750 e a 400, as CB 900 Bol D’Or, as trails de 600 cc e outras.
Acredito que tenha nascido para uns, e renascido para outros, o gosto pelas motos.
O aparecimento de um importante grupo de motociclistas interessados nas motos de maior cilindrada, a maior estabilidade política, social e económica terão sido o motivo do aparecimento de importadores e concessionários interessados no negócio das duas rodas. As motos tinham-se tornado num negócio interessante, paralelamente, toda a oferta de acessórios também apareceu. Antes deste “boom” também os equipamentos e acessórios era escassos, o que existia no mercado era pouco e as opções eram muito reduzidas.
Os anos 90 terão sido a consolidação do gosto pelas motos. Todas as grandes marcas mundiais podiam contar com importadores no nosso país: desde a Harley-Davidson, passando pelas “ilustres” nipónicas e italianas até aos antiquados side-cars chineses e russos.
Terá sido esta imensa oferta que ditou a morte da indústria portuguesa. Os motociclos, mesmo os de baixa cilindrada, provenientes de outros países, apresentavam tecnologia e modernidade, e ainda mais, preços altamente competitivos. A indústria nacional pouco ou nada tinha inovado, os preços também não eram baixos: foi o fim da produção nacional.
Esta “consolidação” levou as pessoas a não desejarem apenas uma moto, mas sim uma melhor moto tanto em características como em cilindrada.
O numero de motociclistas teve um incremento fabuloso, não só nas atividades de lazer mas também os utilizadores no dia-a-dia.
O aumento demográfico nas zonas das grandes cidades e o consequente aumento do trânsito rodoviário e as grandes dificuldades em parquear, foram os motivos para o aparecimento deste último grupo de utilizadores dos motociclos.
Entretanto, a imagem do motociclista melhorou substancialmente: se antes o motociclista era visto como um rebelde, atualmente é socialmente aceite. Obviamente que este facto terá contribuído para os mais complexados colocarem de parte certos preconceitos que nem sempre tinham razão de existir.
1 comentário:
Motopeças foi em tempos a maior casa de motos do país.
Importaram a primeira Yamaha para Europa YA-6!
Trouxeram também a Moto Guzzi e a Kawasaki para Portugal.
Foram também quem introduziram os primeiros Moto 4 em Portugal e na Europa!
Numa altura em que o lançamento das marcas japonesas estava complicado em Portugal, a Motopeças envolveu-se noutras áreas material de pesca, campismo, mergulho, saunas, relojaria...
Introduzindo as caravanas que não existiam no nosso país.
Em 2009 um incêndio no armazém destruiu história da Yamaha arderam mais 100 modelos.
Hoje a Motopeças continua a dedicar-se às duas rodas, acreditando que é a vez das marcas chinesas afirmarem-se...
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